Tenho pensado bastante em porque gosto de filmes de romances com finais felizes na mesma medida que gosto de tragédias de amor. Sei que são idealizações românticas pelas quais fui bombardeado por mais de três décadas e me fizeram acreditar em algo que não é possível. Talvez não pra mim, mas provavelmente não pra ninguém.
Eu nunca soube o que é esperar que o amor seja eterno, senão enquanto dure e nunca achei que duraria para sempre. Nem os pagodes noventistas, nem o soneto de fidelidade, nem minhas experiências, nem nenhuma experiência de alguém próximo me mostrou que isso fosse minimamente possível.
Nunca sentei e fiz planos de longo prazo com alguém, e nunca aconteceu deles surgirem naturalmente sem ser algo combinado. Eu não sei como vou estar daqui um tempo, só sei que não serei o mesmo. Particularmente, acho isso ótimo. Mas como fazer planos e envolver o outro sendo que sequer sei que esses planos serão meus no futuro? Como posso mentir e falar que vamos comprar uma casa no campo, criar vacas, cabras e galinhas, tirar o leite e comer os ovos se posso me tornar vegano de uma hora pra outra? Não seria mentira quando a contasse, mas seria uma grande mentira seguir adiante se não fosse mais isso o que eu gostaria. A natureza mutável do meu ser me paralisa. Nunca soube muito bem como lidar com planos que se desgarram um do outro e resolvem seguir seus caminhos por lados opostos. Nunca soube conciliar esses planos para que não precisassem ser uma despedida dolorosa para todos envolvidos.
Muito eu falo sobre ser neurótico obsessivo, gostar de padrões e locais de conforto, mas pouco falo sobre como esses padrões e locais de conforto mudam sem que eu consiga perceber claramente como essa mudança acontece, ou o porquê dela acontecer. O porquê acho que sei e você, também, deve saber.
O amor romântico pode me fazer suspirar e desejá-lo inconscientemente, mas sei que não é plausível, muito menos saudável. As histórias de duas pessoas que se bastam poderiam ser trocadas por histórias de duas pessoas que não se bastam e mesmo assim permanecem ali, porque o que querem do outro não é completude, mas aproveitar o que o outro tem a oferecer dentro de suas limitações. Venderia menos? Seria menos prazeroso ler sobre um amor verossímil? Só quem perde com histórias reais é o "até que a morte os separe" do padre.
Ainda me lembro de quando li Noites Brancas, como me encantou a construção dos personagens e o desfecho da narrativa. Não que eu ache que o amor precise necessariamente desmoronar, mas dentro de um campo que só explora a edificação pelo amor, as vezes, faz bem sair da mesmice.