sexta-feira, 3 de maio de 2024

Amor romântico: deus me livre ou quem me dera

 Tenho pensado bastante em porque gosto de filmes de romances com finais felizes na mesma medida que gosto de tragédias de amor. Sei que são idealizações românticas pelas quais fui bombardeado por mais de três décadas e me fizeram acreditar em algo que não é possível. Talvez não pra mim, mas provavelmente não pra ninguém. 

Eu nunca soube o que é esperar que o amor seja eterno, senão enquanto dure e nunca achei que duraria para sempre. Nem os pagodes noventistas, nem o soneto de fidelidade, nem minhas experiências, nem nenhuma experiência de alguém próximo me mostrou que isso fosse minimamente possível. 

Nunca sentei e fiz planos de longo prazo com alguém, e nunca aconteceu deles surgirem naturalmente sem ser algo combinado. Eu não sei como vou estar daqui um tempo, só sei que não serei o mesmo. Particularmente, acho isso ótimo. Mas como fazer planos e envolver o outro sendo que sequer sei que esses planos serão meus no futuro? Como posso mentir e falar que vamos comprar uma casa no campo, criar vacas, cabras e galinhas, tirar o leite e comer os ovos se posso me tornar vegano de uma hora pra outra? Não seria mentira quando a contasse, mas seria uma grande mentira seguir adiante se não fosse mais isso o que eu gostaria. A natureza mutável do meu ser me paralisa. Nunca soube muito bem como lidar com planos que se desgarram um do outro e resolvem seguir seus caminhos por lados opostos. Nunca soube conciliar esses planos para que não precisassem ser uma despedida dolorosa para todos envolvidos. 

Muito eu falo sobre ser neurótico obsessivo, gostar de padrões e locais de conforto, mas pouco falo sobre como esses padrões e locais de conforto mudam sem que eu consiga perceber claramente como essa mudança acontece, ou o porquê dela acontecer. O porquê acho que sei e você, também, deve saber. 

O amor romântico pode me fazer suspirar e desejá-lo inconscientemente, mas sei que não é plausível, muito menos saudável. As histórias de duas pessoas que se bastam poderiam ser trocadas por histórias de duas pessoas que não se bastam e mesmo assim permanecem ali, porque o que querem do outro não é completude, mas aproveitar o que o outro tem a oferecer dentro de suas limitações. Venderia menos? Seria menos prazeroso ler sobre um amor verossímil? Só quem perde com histórias reais é o "até que a morte os separe" do padre. 

Ainda me lembro de quando li Noites Brancas, como me encantou a construção dos personagens e o desfecho da narrativa. Não que eu ache que o amor precise necessariamente desmoronar, mas dentro de um campo que só explora a edificação pelo amor, as vezes, faz bem sair da mesmice. 

Quero escrever um texto específico para isso, mas não posso deixar de falar um pouco sobre a cor do amor. Quantas histórias de amor que arrancam suspiros tem protagonistas negros? Quantas se passam na periferia? Eu tenho várias problemáticas com questões de representatividade, mas não aqui. Onde vemos que podemos amar e ser amados num amor exemplar iguais dos filmes e livros? Eles existem, mas precisamos garimpar bastante. Como fazer planos com alguém se a minha realidade não foi mostrada em grandes histórias que tenham planejamento envolvendo pessoas pretas? Como fazer planos se minha expectativa de vida é menor do que as histórias em que casais envelhecem juntos e morrem de velhice com pouco tempo de diferença?
Ânsia de ter? Talvez. Nunca experimentei o tédio de possuir. E me parece ser exatamente onde moram os sonhos, num local inacessível. Não posso ser injusto e falar que nunca tive possibilidade de compartilhar planos de longo prazo, eu só não aproveitei as chances de fazê-los. 
Ainda os desejo. Ah, como eu desejo poder compartilhar planos com alguém que se empolgue e queira fazer dar certo. Compartilhar planos impossíveis também, só pelo divertimento de sonhar. Compartilhar planos de uma forma menos fantasiosa do que me apresentaram no amor romântico e mais realista com a maturidade que fui adquirindo. E é só assim que não se morre o sonho, transformando-o.
Talvez, eu seja um eterno apaixonado. Ou, talvez eu não saiba nada sobre amor e você só perdeu seu tempo lendo até aqui. Fica aí a questão. 

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Interior

 Interior

Ontem, 22/04/24, estive em Araraquara, cidade que já almejei morar, mesmo que temporariamente. 
Andar por uma cidade com clima interiorano reativou algumas ideias sobre o preço que se paga de morar na região metropolitana de São Paulo. 
Diferente de outras ideias, não quero sair de onde vivo no momento. Mas que é um grande choque visitar outro lugar completamente diferente, conversar com as pessoas e perceber as diferenças sutis na vida das pessoas, não tenho como negar que é. 
A segurança em si não é um tópico tão preocupante para mim. O que eu vejo de segurança no interior é algo que me faz lembrar de outros tempos. Tempos que eu sentava na calçada pra conversar com amigos e ficar por horas conversando sentado no chão falando sobre qualquer coisa. Isso ainda acontece em cidades interioranas. Na região metropolitana de São Paulo, em poucos lugares, também acontece ainda. Eu não sei mensurar se a violência cresceu nos centros urbanos ou se por sempre estarmos portando celulares que são parte de nós, deixa a conveniência mais fácil pra quem quiser fazer um roubo de algo valoroso de forma fácil. Na época que eu sentava na calçada, não tínhamos celulares, qualquer pessoa que resolvesse nos assaltar iria sair com nada mais do que a roupa que vestíamos e no máximo algum trocado que tivéssemos no bolso. 
Eu gosto desse clima tranquilo de não me preocupar com assaltos ou só tenho um saudosismo de tempos que vivi e, talvez, não voltem mais? Não tenho a resposta pra isso. 
Gosto do que centros metropolitanos tem a me oferecer na questão da facilidade e diversidade das coisas. Mas eu sou um neurótico obsessivo. Gosto ainda mais de padrões. Sentar no mesmo local, ir à lugares familiares que me geram conforto de algum modo. E no final do dia, por mais agitado que possa ter sido o dia, eu só quero um lugar tranquilo pra descansar (tranquilo mesmo dessa vez), o que nem sempre a região metropolitana oferece. 
Conversei com pessoas que saíram de SP para ir pra Araraquara e o único ponto que reclamaram é o mesmo ponto que mais me preocupa. Deixar as amizades em outra cidade e não conseguir fazer novos laços tão facilmente no novo lugar. Falaram que as pessoas de lá são mais fechadas e menos acessíveis, o que contradiz um pouco a ideia que os vizinhos se juntam pra sentar nas calçadas aos finais de semana. Ou não, porque conhecidos não necessariamente são amigos. 
Eu não sei porque comecei a escrever sobre isso. Talvez, esteja confuso com meu lugar no mundo. Apesar de achar que meu tempo na metrópole não tenha chegado ao fim, sinto que não me satisfaço mais como antes com a cidade grande. Tenho gostado cada vez mais de tranquilidade pra além das noites em casa. 
Entre tantas opções que a metrópole oferece, eu sempre acabo nos mesmos lugares, fazendo as mesmas coisas. Será que eu enjoaria de viver com menos possibilidades só por não ter outras opções? Penso que eu não enjoaria de ter só a praia como opção de lazer, do mesmo jeito que não enjoei de ter o mesmo bar como lazer durante tantos anos. 

Comecei a escrever o texto na terça, hoje é sexta e não sei se vou concluir. Fiquei pensando se deveria fazer revisão e colocar as ideias de forma coesa, mas não é assim que a cabeça funciona. Só fui escrevendo e escrevendo sem me preocupar com nada. Devaneios, como o título do blog sugere. 
Já perdi completamente a linha de raciocínio que tinha quando comecei escrever e não vou mais me prolongar nesse devaneio, Araraquara já tá distante e não consigo mais pensar com tanta clareza sobre as diferenças. 

terça-feira, 23 de abril de 2024

Nem só devaneios, tampouco subversão

 Nem só de devaneios viverá este blog, tampouco pode se esperar qualquer subversão nas palavras aqui descritas. São pensamentos que não satisfeitos em se manterem apenas dentro da minha cabeça, resolveram tomar forma por meio de palavras nem sempre bem escritas. Resultado de uma mente que nem sempre é coerente nos pensamentos. Mas é por meio de tudo isso que espero expressar qualquer tipo de coisa que eu venha sentir vontade aqui. 

Também penso em fazer algum tipo de diário de bordo, sem estar a bordo, mas estando. 

Segue a mesma lógica de tudo que faço: quase sem divulgações. 
Se você chegou aqui por qualquer motivo e leu, parabéns! Se quiser deixar um comentário fique a vontade. 

E é isso! 

Amor romântico: deus me livre ou quem me dera

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